18/09/2008

Antítese

Quero estar deitado, sempre
Colado no calor do teu ventre
E apreciar ludicamente toda a diferença entre o dia e a noite.
Quero ao amanhecer traçar o meu destino, finito que seja, mas quero tê-lo, brincando.
Quero ver a chuva morna cobrir o campo, e nela poder descansar.
Quero o belo da noite,
E depois do limite do dia, pro teu colo poder regressar.

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6 Decigramas

Não queria sair naquela noite o Luciano. Recebeu um convite logo de manhã, mas não estava animado para reuniões sociais. O Tico tinha conseguido o telefone daquela morena e convenceu a moça para ir também. Pensou que iria animar o amigo pra ir num barzinho tomar alguma coisa, papear, e quem sabe algo mais interessante no fim da noite.
- Vâmo lá cara! Todo mundo vai pra lá. Aquela morena da semana passada confirmou também! - Sei não cara. Num tô com vontade não.
- Cê que sabe! Acho que a noite vai ser bacana.
- Sei lá. Quem sabe eu mudo de idéia até o fim do dia.
E foi assim, o Luciano pensou no convite do amigo o dia inteiro, mas não conseguiu se decidir. Nem a presença da morena interessante da outra noite, lhe animara. Entrou na internet, num desses portais de notícia e navegou desinteressado. Chamou-lhe a atenção uma notícia sobre a nova lei que institui o não consumo de álcool antes de dirigir automóveis. “Fiz bem em não ir. Já pensou se tomo uma cervejinha e sou parado pela polícia na volta?”. O corretor resolve ir embora pra casa. Despede-se de todos no escritório e segue se rumo.
No outro dia ao chegar no escritório, como de costume, vai até a copa tomar um cafezinho, e enquanto queima os dedos no copo descartável, tem que atender ao celular. O Tico liga pra contar sobre a noite de ontem. Ele logo vai dizendo que a decisão do colega foi acertada. Foram, o Tico e a turma, inclusive a morena, ao bar onde sempre se reuniam. Umas cervejas e outras depois, resolveram ir embora. Como de costume, não abusam da bebida, pois sabem dos riscos no trânsito, e foram embora cedo, antes da meia-noite. No caminho, a surpresa. Uma blitz da polícia pra checar a quantas anda o nível de álcool dos boêmios. No caso, estavam sendo utilizados aparelhos descartáveis. Funciona assim, o abordado sopra dentro de um envelope de plástico até encher, depois encaixa um tubo com cristais amarelos de cromo, e aí então passa a esvaziá-lo. Se os cristais ficarem verdes até ultrapassar uma marca preta no tubo (o limite são 6 decigramas), o motorista que passar pelo teste, pode ser punido com prisão e multa.
Ora, o fato então passa a ser o tal bafômetro, e não o Luciano não ter ido ao bar com os amigos. “Que fim que deu, então? Você fez o teste?”. O Tico continua e revela que quando é chegada sua vez de soprar no envelope, os policiais percebem a falta de artefato. Não havia sobrado nenhum mais, pois eram todos descartáveis e já tinha sido utilizado todo o lote. O Luciano deu risada da situação e falou ao amigo que até tinha decidido ir na última hora, e se bebesse iria voltar de taxi. Ou então quem sabe, tomar só suco, ou refrigerante. Mesmo assim, pelo visto garantiria o seu retorno pra casa sem problemas.
Tem coisa que não dá pra prever, nem quantas cervejas você vai tomar, nem se a polícia vai parar, e muito menos que não vai ter bafômetro pra todo mundo.

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As Histórias do Amadeu - 1

Amadeu é um cara simples. Aposentado, acorda diariamente as 06:30 para sua caminhada diária. Vez por outra ele caminha acompanhado do Carlos, que tem duas pontes de safena e não suporta exercícios físico. Caminha por que é obrigado.: “Odeio suar!”, diria ele. Depois de caminhar, os dois sempre vão à praça pra jogar um dominózinho amigo. O local é freqüentado por vários senhores aposentados, desempregados e afins, mas isso não incomoda o Amadeu, muito pelo contrário, o faz esquecer das chatices da Marilda, sua esposa.
Amadeu dia desses tava lá na praça jogando, e a Marilda foi lá falar com ele.
- Ei! Eu tô indo no mercado, você vem comigo?
- Vai indo que eu tô terminando aqui. Já eu te encontro lá.
- Nana, nana! Da última vez que você disse isso, tive que pagar vinte reais de taxi pra voltar! Vou esperar você aqui!
Adivinha se não houve risos gerais na praça? Mesmo assim, Amadeu continuou jogando e só depois de terminar é que ele seguiu com a Marilda puxando o carrinho de feira.
- Você viu o preço do achocolatado? Tá pela hora da morte?
- Marilda, já estamos aqui à quarenta minutos e você não terminou suas compras. Vai levar o mercado todo, ou o quê?
- Nossa Amadeu, você tá cada dia mais chato. Típico comportamento de gente que não faz nada da vida. Já tô quase terminando, peraí.
Era assim todas as vezes em que o Amadeu não conseguia de safar da Marilda. Na relação, a Marilda era a comandante, e ele sempre tinha suas lamentações. Apesar de aposentado, o Amadeu era novo, tinha só 54 anos. Começou a trabalhar cedo, seu sua atividade profissional era insalubre. Trabalhou a vida inteira num laboratório de produtos químicos, por isso que ele tinha que caminhar. Recomendações médicas. A Marilda ele conheceu na firma. Ela trabalhava no “DP”. Com o tempo, foram se acostumando com a relação, coisa muito normal nos dias de hoje. Hoje, acostumados, o Amadeu vai fingindo que gosta da Marilda, e ela finge que acredita.
Três horas depois de ter ido ao mercado, volta o Amadeu pra praça.
- Como tá o jogo aí?
- Olha o cara aí! Consegui trazer tudo, ou teve que dar duas viagens? – disse o Carlos.
- É a Marilda. Num guento mais aquela mulher. Fica dando voltas e voltas. Passa um monte de vezes no mesmo corredor e não leva nada!
Cinco minutos de papo são suficientes para a Marilda aparecer de novo.
- Amadeu, preciso ir no açougue. A Valéria me disse que tem uma promoção ótima. Diz que o preço do lagarto tá muito bom. Tô pensando em fazer aquele assado que você tanto gosta.
Vocês precisavam ver a cara de espanto de todos, principalmente a do Amadeu. Ele não esperava que a Marilda falasse aquilo na frente de todo mundo, ainda mais, cinco minutos depois de ter chegado do mercado.
- Então tá! Vá lá e traga uma peça bem bonita.
- Nana, nana. Você vai comigo escolher. Aliás meu cartão do banco tá bloqueado e preciso que você vá no caixa eletrônico tirar dinheiro.
- Pega meu cartão e vai. Você sabe a senha.
- Você sabe que não gosto disso.
- Mas eu tô jogando! Quer dizer, eu vou jogar!
- Joga depois! Você vai jogar o dia todo mesmo. Não sai dessa praça! Vâmo lá vai!
Por um momento, ele refletiu rapidamente e percebeu que sua esposa queria na realidade tirá-lo da jogatina, e estava usando uma desculpa atrás da outra pra conseguir o que queria. “Ela que vá pensando que me domina.” – disse pra si mesmo.
- Você vai preparar pro almoço ou pra janta?
- Pra janta. A Flavinha vai lá em casa com o namorado.
- E quanto você vai gastar?
- Uns quinze reais.
- Então vai lá na minha carteira e pega vinte.
- Mas você tem que me ajudar a trazer as outras coisas, o refrigerante...
- Pode deixar que quando eu sair daqui eu levo os refrigerantes.
Ela emudeceu, afinal, não tinha mais desculpas pra tirar o Amadeu dali.
- Tá bom! Vê se não demora. – e saiu andando.
Mais uma vez o Amadeu conseguiu escapar. Mas não era sempre assim, ele nem sempre ganhava. Era apenas mais uma batalha, e ele tinha certeza que vinha mais por aí.

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Cores Frias

Quando percebi, já estava com o globo ocular direito nas mãos, e pedindo pra ser liberada logo porque tinha prova de anatomia na primeira aula. A enfermeira me explicou que aquele punhal, arremessado por alguém do lado de fora do trem, estava enferrujado e eu teria que ficar em observação. Era alto o risco de tétano. Permaneci ali por mais um tempinho sentada na maca até que um rapaz entrou na sala dizendo ser o operador de raios-X, e que precisava providenciar algumas radiografias dos seios da minha face. Conheço bem o procedimento. Pediu que eu deitasse encostando o rosto naquela maca gelada, e tirou a primeira chapa. Depois pediu pra virar de lado, agora sem a atadura que protegia o buraco sangrento do meu rosto. “Senão queima”, disse ele. Fiquei lisonjeada quando olhando para minha ficha, ele murmurou sentir-se atraído por mulheres com olhos de cores diferentes. Os meus, um era verde, o outro azul, da mesma cor do cabo do punhal que o perfurou.

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Manual da Etiquet Sustentável 1 - 6




1
Na hora de comprar um carro, faça um cálculo simples de qual o tamanho ideal para suas necessidades. Veículos maiores consomem e poluem mais. Modelos do tipo flex fuel estão adequados às normas de proteção ao meio ambiente. Lembre-se: prefira abastecer com etanol.

2
Carro não é o meio de transporte ecologicamente mais correto. Use-o com moderação, em especial se tiver um enorme 4×4 a diesel. Ande mais em transporte coletivo ou reabilite sua magrela.

3
Compartilhe seu carro. “Pratique a carona solidária e diminua a emissão de poluentes, levando pessoas que fariam o mesmo trajeto separadamente”, recomenda o ambientalista Fábio Feldmann. Você vai se tornar o cara mais simpático da cidade.

4
Carro requer manutenção, não tem jeito. Faça uma regulagem periódica, sempre que possível. Troque o óleo nos prazos indicados pelo fabricante, verifique filtros de óleo e de ar. Todas essas medidas economizam combustível e ajudam a despejar menos CO2 no ar.

5
Que tal lavar o carro a seco? Existem diversas opções de lavagem sem água, algumas até mais baratas do que a tradicional, que consome centenas de litros do precioso líquido. Pense também em lavar menos seu carro.

6
Tem atitude mais grosseira que atirar lata ou outros dejetos pela janela do carro? O castigo para essa gafe é garantido: os resíduos despejados na rua são arrastados .

fonte: planetasustentavel.com.br
A Ilha dos Franceses está situada no litoral do país e tem a nostalgia das vilas espanholas e a perturbação das grandes metrópoles. Tudo que acontece lá tem a mais pura intensidade. As histórias e seus personagens vivem em constantes conflitos, mas o desejo da felicidade se sobrepõe sobre tudo e todos.

A Ilha é um lugar onde as fantasias se confundem com a realidade, onde os desejos são sempre postos em primeiro plano e onde tudo pode acontecer. A primeira vez que passei por lá, tive um deslumbre. Fiquei incomodado com toda a minha história e vi que precisava entrar naquele lugar, e de lá nunca mais sair.

Hoje sinto que apenas conhecer a ilha não bastou. O resto da minha vida precisa ter suas páginas escritas a partir daquele lugar, e é pra lá que eu vou. Pro meu canto.