A caminhada não era tortuosa nem longa, pelo contrário, era acolhedora mesmo diante daquele amontoado fétido do entulho que havia se deitado sobre tudo.
Aquele homem era há muitos anos o amigo preferido do ex-pastor. Ambos eram muito ligados. Ele, apesar de procurar incansavelmente, não conseguiu encontrar nada inteiro, e pelo estrago, não existia nenhuma possibilidade de resgatar ninguém com vida daquele acidente, mas ele que havia saído de casa apenas com as roupas do corpo e um par de meias amarrotadas que colheu do sol escaldante que fez naquele dia após a chuva, mantinha a esperança e continuava caminhando entre aquele monte de coisas inúteis em busca de algum sinal do amigo.
A cada metro que desbravava ficava a impressão de estar caminhando em círculos. Da calamidade restou uma enorme montanha de coisas inúteis cercadas de lama e que pareciam haver sido cuspidas do solo feito vulcão. Aquele monte de coisa fedida e sem préstimo atrapalhava o acesso a qualquer coisa por ali. Não dava pra saber, por exemplo, o que era rua e o que era esquina.
Ele estava enjoado, com a boca amarga e o estômago embrulhado. O cheiro de carne estragada empesteava-lhe as narinas e vez por outra ele chutava um ou outro rato. Queria que fosse diferente, mas não pode presenciar nada além da catástrofe. Não havia uma parede de pé, e as telhas estavam todas quebradas. Seus calcanhares dentro das galochas estavam prestes a sucumbir quando viu que a pasta de lona que o ex-pastor sempre carregava consigo, aparecia discreta sob o que parecia ter sido um dia uma mesa de bilhar. Não teve tempo de se aproximar para tentar reconhecer o anel da mão que segurava a pasta de lona porque a retro escavadeira que criou todo aquele absurdo crônico desligou os motores. A chuva voltava a cair.